O governo de JK (1955- 1961) entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo foi “cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo”. Para cumprir com esse objetivo, o governo federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial. Na época, o Brasil tinha uma população em sua maioria rural, com escolas e educação precárias, além de altos índices de analfabetismo. Um cenário nada favorável, principalmente para os planos de extensão que o país vivia no momento.
Com a chegada da industrialização, o país necessitava de formar mão de obra para esse setor. Começa-se então uma era de crescimento e investimento no ensino tecnicista e profissionalizante. JK priorizou o ensino que atendesse seu projeto desenvolvimentista, ensino técnico focado para atender esse novo mercado de trabalho.
A educação mais uma vez foi tratada com superficialidade, sem atender as classes mais necessitadas. Ter acesso a uma educação pública, de qualidade, laica e acessível a todos se tornava cada vez mais distante. A escola democrática capaz de trabalhar, respeitar e produzir conhecimento não fazia parte desse contexto.
Os movimentos estudantis já vinham conquistando espaço desde o início da década de 60, anos que precederam o golpe. Assim, os estudantes e educadores se juntaram aos movimentos grevistas e camponeses, tudo que os militares repudiavam. Por isso, quando os militares tomam o poder e dão inicio ao Golpe Civil Militar em 1964, a educação é declarada uma inimiga do governo.
Intelectuais e militantes da educação como Darcy Ribeiro e Paulo Freire, que hoje são conhecidos mundialmente, estiveram presos e precisaram se exilar em outro país. A sociedade ligada aos movimentos sociais organizados e movimentos estudantis a cada ano sofria os efeitos dos atos institucionais, e a educação cada vez se tornava mais coadjuvante.
Já não havia diálogo e nem perspectiva de esconder as mudanças; os conteúdos formam modificados e vieram para reforçar uma ideologia exaltando o nacionalismo e patriotismo no país. Cada vez mais o discurso opressor ia ganhando força e espaço dentro do país.
Tratava-se de um ensino autoritário, vigilante e disciplinador. Enquanto as escolas de educação regular sofriam com a falta de estrutura e descaso, as universidades temiam com as práticas de violência física e psicológica, além das perseguições causadas por agentes infiltrados que frequentavam os meios universitários à procura de pessoas que discordassem do governo. Bastava haver discordância que era tratado como subversivo e ou comunista. O que prevalecia era ser obediente e que exaltassem valores “a favor da família” e religião cristã.
Notaram qualquer semelhança com o nosso presente? Por isso, a luta pela consciência popular e a resistência contra a opressão exige que revisitemos a história da educação no Brasil, exige que rejeitemos essa herança do período ditatorial e exige que tracemos outro rumo na educação e pela educação do Brasil.
Referências:
CUNHA, Marcus. A Educação no Período Kubitschek: os Centros de Pesquisas do Inep. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 72, n. 171, p.175-195, maio/ago. 1991. Disponível em: http://rbep.inep.gov.br/ojs3/index.php/rbep/article/view/1368/1107. Acesso em: 28 nov. 2020.
Manifesto dos Educadores: Mais uma Vez Convocados (Janeiro de 1959). Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. especial, p.205–220, ago2006. Disponível em: https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/4922/doc2_22e.pdf. Acesso em: 28 nov. 2020.
Origens do Golpe. Memórias da Ditadura, 2014. Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/origens-do-golpe/. Acesso em: 28/29 nov. 2020.
A educação brasileira antes de 1964. Memórias da Ditadura, 2014. Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/antes-do-golpe-2/. Acesso em: 1 dez. 2020.
Educação Básica. Memórias da Ditadura, 2014. Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/educacao-basica/. Acesso em: 1 dez. 2020.
Universidades. Memórias da Ditadura, 2014. Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/universidades/. Acesso em: 1 dez. 2020.
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